Episode 256: A Day in the Life of a Cemetery Worker
To get more information about the conversation club, its advantages, schedules, and other important details, visit the following page: https://portuguesewitheli.com/cah
If you feel like helping this podcast but don’t want to become a student or subscriber, consider leaving us a review in your podcast player (Apple or Spotify). This helps a lot!
Also, if you’d like to, you can send me a tip that will become BOOKS I buy and read to prepare all these lessons (in addition to other hardware, of course), you can do it so here: https://buymeacoffee.com/elisousa
Do you see an expression here that you don’t understand? Send me a message here: https://portuguesewitheli.com/contact-us
Now, here is the monologue for your benefit:
Já vi muita criança dizendo que queria ser médico quando crescesse, mas nunca vi nenhuma dizer que queria ser coveiro. Se dissesse, os pais mandavam internar dizendo que a criança estava louca. Mas o fato foi que esse era o meu sonho desde criança.
Tem muita gente preconceituosa para com o trabalho de coveiro, sabia? Ficam achando que você vai lidar com assombração, que você tem que carregar cadáver e coisa do tipo. Eu não ligo. Primeiro porque a minha família não estava montada na grana. Aos 18 anos, eu estava num mato sem cachorro. Precisava de um ganha pão e a patroa estava ficando arisca na época, não podia nem chegar perto. Mas foi só eu completar 18 anos que consegui o emprego de coveiro.
Também, não é como se houvesse muitos candidatos por aí.
Quando comecei a trabalhar no cemitério foi bem interessante. Era no regime de 12 por 36. Logo no meu primeiro dia de trabalho, fui acompanhar um coveiro mais experiente. Ele me instruiu a começar pelas ordens de serviço. No geral, quando a gente começa a lida, tem uma lista de tarefas a fazer. Às vezes, tem que fazer uma inspeção geral nas alamedas e nos túmulos. Só para garantir que tudo esteja limpinho. Muitas famílias passam por ali levando os seus entes queridos para o enterro e é necessário ter pelo menos dignidade neste momento.
A gente também costuma abrir covas. Tem que ter pelo menos um pouco de músculo nos braços e força nas costas também, porque usamos pá, enxada, picareta e o escambau para escavar a terra. Mesmo que a gente consiga afofar a terra com algumas dessas ferramentas, ainda é trabalho pesado. Um sujeito raquítico passa mal nesse ramo.
Agora, me desculpe a indelicadeza da alusão, mas não é só de cova que vive um coveiro.
Em dia de sepultamento, que é quase todo dia, a gente precisa acompanhar o cortejo fúnebre. Por mais cansado e comovido que a gente esteja nesse momento, tem que fazer cara séria. Na cerimônia de sepultamento, a gente ajuda a colocar o caixão na sepultura e tem que seguir as ordens quando tem algum rito religioso. E também não pode fechar a cova nas pressas. Mais uma vez peço desculpa pelo comentário, mas não é como se alguém ali fosse sair correndo. É uma situação solene. O mínimo que a gente pode demonstrar é paciência.
Agora se tem um trabalho que eu não gosto é de ajudar na exumação. Não sabia antes de começar, mas não é só a enterrar e deixar enterrado, não. Afinal, todo dia nasce e morre gente. E até onde se sabe, a Terra não está ficando maior não. Então, quem já está morto há muito tempo tem que abrir espaço para quem está morrendo agora. É aí que entra a exumação.
No dia da exumação, a gente vai até o jazigo correto. Lá, a gente consulta a lápide, se certifica de que é a sepultura correta e começa a escavar. Tem que abrir com cuidado, porque às vezes o caixão está arruinado. Além disso, tem que usar os EPIs para evitar qualquer contaminação. Daí o pessoal especializado vem, remove os restos mortais e faz o que a família mandou fazer – às vezes, transferem os despojos para as gavetas do ossuário, e às vezes mandam cremar e colocar as cinzas numa urna.
Como disse antes, tem muita gente que tem preconceito, mas eu não tenho não. Adoro trabalhar como coveiro. Só saio daqui para ser agente funerário. Ou para ser cliente do cemitério.